Ciência sem Fronteiras (S05E01)

O programa do governo federal, Ciência sem Fronteiras, tem se constituído do principal investimento na vertente de educação em nosso país e celebrado como uma oportunidade ímpar para alunos e pesquisadores. Será que é assim mesmo? Para sanar dúvidas e esclarecer como funciona o CSF, o Rock com Ciência entra em uma descontraída discussão sobre o tema, acompanhada por uma trilha sonora impecável! Programa gravado em 14/03/14.

 

Breve biografia cultural: Prof Francisco Mauro Salzano

P 11 - CIÊNCIA - Professor Salzano 1 - Cadinho Andrade

ROCK 1 – Iron Maiden – Stranger in a strange land

  • Os aspectos teóricos do programa
  • Principais críticas
  • Falhas e sucessos
  • Mal planejamento e demagogia
  • Conclusões

 

ROCK 2 – Korn – Politics

                                                   Entrevista

Matheus Lacerda, aluno da UFV e atual residente em Brisbane, Austrália, beneficiário do programa:

– Qual a maior dificuldade que você enfrentou no programa? 

 

Bem, vou listar minhas dificuldades que enfrentei aqui desde o momento em que me inscrevi no programa:

 

1º: Mau suporte provido pela CAPES na escolha das universidades bem como nas matérias a serem cursadas após o curso de inglês. Logo, tive dificuldades na seleção das matérias para o 1º semestre;

 

2º: Adaptação (nova língua, casa, comida, socialização);

 

3º: A CAPES só possui atendimento online, provido por um “técnico” o qual o bolsista só tem como via de contato para sanar qualquer dúvida por email, que demora muito a responder (quando responde).

 

– O curso inicial de inglês foi suficiente para acompanhar as aulas? 

 

Isso dependeu muito do meu grau de conhecimento em inglês antes de vir para a Austrália. Como eu já tinha um inglês intermediário antes de vir para exterior eu comecei a cursar no último nível do intermediário até finalizar o acadêmico. Mesmo assim, é difícil você ter um vocabulário básico ou intermediário da sua área (botânica/ecologia), porque o que você aprende no curso de inglês é geral, é o que um professor de inglês ensina em um curso, seja no Brasil ou onde quer que seja. Por este motivo, eu tive que me matricular em matérias não muito específicas para este semestre. Como por exemplo, eu cheguei a me matricular na disciplina de Diversidade e Evolução das Plantas, porém a professora me aconselhou a cursá-la, se oferecida, somente no segundo semestre até eu me familiarizar com o vocabulário básico.

 

 

– Quais as principais diferenças no método de ensino que você está tendo aí em relação à nós? 

 

Este foi o grande CHOQUE que TODOS do programa CsF sentiram e sentem. É muito diferente. O sistema de ensino aqui funciona com palestras e tutoriais, podendo em alguns cursos optar por um curso presencial ou online. O professor espera mais do aluno, que ele estude independentemente, se organize e faça sua própria “timetable”. Por exemplo, estou cursando 4 matérias, somando todas os horários de tutoriais e palestras equivale a 15h/semana. Porém, somos atribuídos a fazer trabalhos, montar pequenos projetos de pesquisa, apresentação de posters, debates, seminários, conduzir tutoriais e etc. Um outro ponto forte, a infraestrutura dos laboratórios, equipamentos, recursos ($) são de ponta, diferente do que se vê na maioria das universidades do Brasil.

 

 

 

– O recurso da bolsa é suficiente para sua manutenção? 

 

 

Não sei se nos outros países existe o tal “auxílio local de auto custo”, que funciona da seguinte maneira: cidades na Austrália que são consideradas de auto custo de vida, como a minha cidade (Brisbane) os bolsistas recebem um adicional na bolsa de $500 dólares. Com este adicional não temos o que reclamar da quantia da bolsa, que se bem controlada você até consegue explorar o país nos períodos de recesso e feriados.

 

– O que este estágio representa para você, profissionalmente? 

 

 

Antes de tudo, me representa uma experiência de vida imensurável. Acredito que somente estudantes que já passaram e que estão neste programa conseguem explicar. Você adquire mais responsabilidade, amadurecimento, maior controle e organização de seus deveres/tarefas, você torna-se um “independent learner”. Também representa os benefícios do aprendizado e o aperfeiçoamento na língua inglesa, a língua da ciência. Ainda mais, não menos importante, é a possibilidade de ter contato com fortes linhas de pesquisa relacionadas a sua área, manter contato com os pesquisadores, estagiar em laboratórios, pesquisas de campo e quem sabe vir a fazer um especialização, mestrado ou doutorado futuramente.

 

 

Para finalizar, eu gostaria de falar um pouco além sobre o programa. O Ciência sem Fronteiras eu acredito que foi e é um excelente iniciativa do governo. Até agora nenhuma bolsa no edital que estou homologado debitou atrasada, mesmo perante todas as dificuldades com os cartões. O que eu acredito que o governo deve-se atentar é quanto a seleção dos alunos, a qual precisa ser mais rigorosa. Porque existem muitos brasileiros neste programa que acham que estão em colônias de férias, não levando a sério este estágio. O que estes alunos não sabem é que o curso e a faculdade todo mês manda um relatório com nossas atividades, desempenho, dificuldades e resultados esperados. Existem muitos bolsistas que só reclamam e que falam que o dinheiro da bolsa não é suficiente e saem nas redes sociais literalmente destruindo o nome do programa. A prioridade da bolsa é você se sustentar, comer e ter uma qualidade de vida, e não gastando tudo em festas e eventos sociais. Por fim, acredito que o sucesso do programa está principalmente no desempenho do estudante, o quanto ele quer explorar enquanto estiver neste estágio.

 

 

2 thoughts on “Ciência sem Fronteiras (S05E01)”

  1. Muito bacana o programa de vocês. Acredito que o CsF ainda está passando por modificações, é um programa muito novo, e por isso algumas informações são diferentes de edital para edital. Eu, por exemplo, não precisei do ENEM para me candidatar em jan/2013. Em relação a prestação de contas pelos estudantes, acho que há mesmo pouco acompanhamento e exigências. Até onde sei, o exigido é que o aluno não reprove nas disciplinas (pelo menos não em todas, são feitas 4 por trimestre), que envie dois relatórios sobre o período de estágio (que é obrigatório de 4 meses durante o verão, sendo ele em pesquisa dentro da universidade ou em industria – no edital do Canadá) e que ao terminar o programa que permaneça no Brasil pelo mesmo tempo ou mais que ficou em intercâmbio. Esse é o tipo de programa em que os frutos serão colhidos no futuro.
    Diferente do que alguns comentam acho importante que envie alunos de graduação (porém com melhor seleção desses, não pensando somente em números), pois esses terão muito mais oportunidades e serão mais competitivos quando estiverem para iniciar uma pós graduação no Brasil ou não, do que o estudante que está indo em intercâmbio somente no doutorado. Com certeza a pesquisa de alto valor será feita pelo doutorando em intercâmbio, mas o aluno de graduação iniciará sua pós graduação com uma outra visão e enriquecerá a ciência desde o nível mais básico, caso tenha participado dessa experiência anteriormente.
    Gostaria de compartilhar o meu blog sobre o meu intercâmbio, sou um dos estudantes que teve que fazer inglês e só agora está na parte acadêmica do programa; meu período de estágio ainda não começou. http://torontosemfronteiras.wordpress.com/
    Obrigada

    1. Olá Barbara,

      De fato, o programa se mostra bem encaminhado em alguns quesitos, no entanto ainda carece de organização adequada e suporte aos estudantes. Algo que pode ser remediado à medida que o projeto avança. Quanto ao blog, aparenta ser de grande ajuda a estudantes com dúvidas à respeito da vida acadêmica e cotidiana no exterior, parabéns pela iniciativa.

Deixe um comentário